14 dezembro, 2010

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS

    

BORBOLETAS


Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta -
Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que os homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para apaz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.
                         Manoel de Barros

27 novembro, 2010

SABEDORIA CANINA


Já se imaginou agindo com a sabedoria canina? Tente!
Nunca deixe passar a oportunidade de sair para um passeio.
Experimente a sensação do ar fresco e do vento na sua face por puro prazer.
Quando alguém que você ama se aproxima, corra para saudá-la.
Quando houver necessidade, pratique a obediência.
Deixe os outros saberem quando invadirem o seu território.
Sempre que puder, tire uma soneca e se espreguice antes de levantar.
Corra, pule e brinque diariamente.
Coma com gosto e entusiasmo, mas pare quando estiver satisfeito.
Seja sempre leal.
Nunca pretenda ser algo que você não é.
Se o que você deseja estiver enterrado, cave até encontrar.
Quando alguém estiver passando por um mau dia, fique em silêncio, sente-se próxime e gentilmente tente agradá-lo.
Quando chamar a atenção, deixe alguém tocá-lo.
Evite morder quando apenas um rosnado resolver.
Nos dias mornos, deite-se de costas sobre a cama.
Nos dias quentes, beba muita água e descanse embaixo de uma árvore frondosa.
Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.
Não importa quantas vezes for censurado, não assuma a culpa que não tiver e não fique amuado... Corra imediatamente de volta para seus amigos.
Alegre-se com o simples prazer de uma caminhada.
Ame seus amigos incondionalmente.

                                
(Vininha F. de Carvalho, 
Vice-Presidente da Liga de Prevenção
à Crueldade Contra o Animal - Belém, PA)

03 novembro, 2010

Algumas sugestões de leitura

O GATO POR DENTRO, de William Burroughs (L&PM Pocket)
   O livro trata da relação entre o famoso escritor beat e os gatos. Burroughs amava os felinos, e na obra ele relembra de forma sentimental e particular todos os gatos que passaram pela sua vida  (seus companheiros psíquicos).

FLUSH - MEMÓRIAS DE UM CÃO, de Virginia Woolf (L&PM Pocket)
   Considerada a obra de ficção mais acessível de Virginia, é na verdade baseada em figuras reais e históricas: Flush, um cooker spaniel dourado, era a principal companhia da poeta vitoriana Elizabeth Barret-Browning. A autora resolveu dar-lhe vida literária a partir da leitura da correspondência amorosa entre Elizabeth e o também poeta Robert Browning. Nas cartas trocadas entre ambos, destacava-se a figura de Flush, sua docilidade, vivacidade e inteligência. Tanto os amantes da autora inglesa quanto os amantes de cães não ficarão decepcionados.

BICHOS, de Miguel Torga (Editora Nova Fronteira)
   Primeiro livro de contos deste escritor português e o que mais teve edições. É composto por quatorze breves narrativas, onde animais são os protagonistas (em sua maioria) ou são simbolizados por comportamentos humanos.

OS OLHOS DE EMMA, de Sheila Hocken (Editora Record)
   A obra apresenta a tocante e divertida história da amizade entre a autora , que nasceu com um problema nos olhos e ao fim da adolescência chegou à cegueira, e Emma, sua cadela-guia, uma labrador cor de chocolate.

COMO VENCER NA VIDA DE CACHORRO, de Larry Siegel (Editora Record)
   É um livro de bolso da revista Mad, uivado e latido por Rex. Enfim, criatividade e diversão!

29 outubro, 2010

A DISCIPLINA DO AMOR


Foi na França, durante a segunda grande guerra: um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e na maior alegria, acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta à casa. A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo animado atrás dos mais íntimos. Para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe. Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar ansioso naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao seu posto de espera. O jovem morreu num bombardeio mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias. Todos os dias. Com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina. As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?... Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.

               Lygia Fagundes Telles 


   Outro texto querido, de escritora idem. Quando assisti Sempre ao Seu Lado (Hachiko: A Dog's Story, 2009), veio-me imediatamente à lembrança esta pequena narrativa, que faz  parte do livro A Disciplina do Amor (Ed. Nova Fronteira), deliciosa mistura de contos, observações e confissões. Ou seja, o amor canino tem dessas coisas.

UM CÃO, APENAS


   Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim - plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito - eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho doente, como todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...
   Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos nfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

14 outubro, 2010

LOVE CATS - The Cure

    

Algumas sugestões de leitura


A VIDA OCULTA DOS CÃES, de Elizabeth Marshall Thomas (Ediouro)
   Interessante relato sobre um estudo da consciência canina, desenvolvido a partir da convivência da autora com cães, lobos e dingos ao longo de trinta anos. Elizabeth, antropóloga e romancista, apresenta de maneira objetiva, mas sensível, o fruto de mais de 100.000 horas de observação do cotidiano de uma dúzia de animais.


A HISTÓRIA DE FERNÃO CAPELO GAIVOTA, de Richard Bach (Ed. Nórdica)
   Esse milhões já conhecem, porém nunca é demais indicar essa belíssima metáfora sobre a arte de viver a liberdade, a despeito de antigas convenções sociais, atrevendo-se a ultrapassar limites e obstáculos em busca da descoberta de si mesmo - o seu voo próprio. Um dos maiores best-sellers das últimas décadas, foi recusado por 18 editoras antes de ser publicado.

AVENTURAS DE UM CÃO DE CIRCO, de Jack London (Ediouro)
   Micael é um cão de caça irlandês que passa por muitas aventuras (agradáveis ou não), até tornar-se um astro no mundo do circo. Vale ressaltar que o escritor americano Jack London criou outras obras de ficção onde os animais representam personagens fortes, dignos de sobreviver às vicissitudes da vida. Destaque para O Chamado Selvagem, seu grande sucesso literário, e Caninos Brancos - ambos já adaptados para o cinema.

MORDIDAS QUE PODEM SER BEIJOS, de Walcyr Carrasco (Ed. Moderna)
   Uno of Karras é um husky siberiano que narra, com muito bom-humor, sua doce vida de cachorro, principalmente quando entra em cena Brigite, uma fêmea da raça pastor alemão, capa preta. A história foi provocada pelos próprios cães do autor (escritor, dramaturgo e autor de telenovelas), que emprestaram nome e raça aos personagens.


Por ora, basta. Logo indicarei outras leituras. Há ainda tantas e tantas!

Loucos e Santos